[Glow, Gideon Obarzanek, 2006]
this is the glamorous life there’s no time for fooling around
40 anos, calças pretas, camisa preta. Em muitas cidades do mundo este poderá ser o retrato de um arquitecto. Em Pequim também.
Francisca Gorjão Henriques, em Pequim
Mas vale a seguir a digressão da jornalista com o colega (que veste de preto) pela nova Pequim no P2.
metablogger
i.
[...]quotidiana desvalorização do pensamento crítico.
João Lopes
ii.
As fãs dizem que não. Diz que sou mais bonito e assim.
|
João Amaro Correia
|
|
|
blogs
estradas nacionais [virá a morte e terá os teus olhos]
A paisagem derrubada pelo fogo. O território queimado pela negligência dos homens.
Regenera-se, lenta, a natureza. Mais lenta e dolorosamente prescindimos de um país possível.
És como uma terra
que nunca ninguém disse.
Não esperas nada
a não ser a palavra
que jorrará do fundo
como um fruto entre os ramos.
Um vento vem ter contigo.
Coisas mortas e secas
abafam-te e vão no vento.
Membros e palavras antigas.
No Verão tremes.
[A Terra e a Morte, Cesare Pavese]
|
João Amaro Correia
|
|
|
estrada nacional
go east [vontade e representação]
A 25 de Agosto de 2008 redefinir-se-á a identidade da China. Aos olhos do mundo, aos olhos do Ocidente. Porque é este o jogo. De identidades. Da Nova China, como peão global e já não regional e do próprio Ocidente que, em crise económica e psicológica – que não cultural – se vê na contingência de se repensar enquanto “farol” da humanidade. Muito mais que performances desportivas, o que se ergue a Oriente é uma nova ordem mundial. Um bater de asas em Pequim...
Ícones globais de uma arquitectura global erguem-se no horizonte de uma geração – Koolhaas, Herzog, starchitects – que se propôs rever a matéria monolítica do final do modernismo anquilosado. Complexidades e contradições de quem (se) libertou da previsibilidade tardo-modernista, apostou na democracia da forma, e agora estende a carteira de clientes às mega-corporações e a regimes autoritários.
Se o Ninho de Pássaro exala uma “beleza intoxicante”, ícone universal do capitalismo asiático, enredado no interminável debate da moralidade de servir um regime bárbaro, não será o melhor ponto de fuga uma entusiamada estética, um terrífico sublime, ou realpolitik, como justificação dos triunfos estéticos alcançados no dealbar do milénio.
Cínicos? Sabemos bem que muita da arquitectura que nos emociona tem sangue como argamassa.
a História será sempre contemporânea
O ensaio, entendido como uma indagação livre e criativa, não exaustivo, nem especializado, destituído de um carácter rigorosamente sistemático, é a mais genuína ferramenta da crítica. Todo o ensaio deve buscar alinhavar argumentos e comparações inéditos, até certo ponto heterodoxos, com elementos subjectivos. Não tem sentido algum como reformulação de tópicos; ao contrário, deve se preocupar em formular perguntas, mostrando a arbitrariedade das convenções. O ensaio consiste numa reflexão aberta e inacabada cujo ponto de partida é o desenvolvimento da dúvida. É essa estrutura aberta que lhe permite orientar-se na direcção de uma concepção multidisciplinar do conhecimento humano, de uma compreensão da cultura e da arte como um todo, inter-relacionado, [...]
[Arquitectura e Crítica, Josep Maria Montaner, Editorial Gustavo Gili, 2007]
da museologisação dos costumes
Pitorescos conservadores andamos todos em roda da salvação do Largo do Rato, daquilo que é hoje um nó de auto-estrada irrespirável, intransitável, poluído, onde uma flor seria um milagre sobre o alcatrão do centro da cidade. Rejubila-se pelo indeferimento de um “mono”, dizem, que “não se enquadra”, que “rompe com a malha urbana da envolvente”, em panfletaríssima indignação por uma arquitectura puramente lisboeta.
Mas que ressoa desta entrópica algazarra?, aparte mútuas acusações de “capelismo” arquitectónico-corporativo-mediático, aparte distintos derrames de gosto, aparte a insansatez das boas-consciências, aparte a ausência da ideologia e da política. E a cidade ausente do seu próprio tráfico.
A um arquitecto é encomendado, por um cliente privado – note-se curiosamente a ausência neste debate da figura do cliente, chamado apenas para responder às acusações de explorar até ao limite o que a lei lhe concede, como um criminoso por cumprir a lei e nesse cumprimento programar lucro - um projecto para determinada parcela da cidade. O arquitecto responde à solicitação do cliente – cliente que aparentemente terá concedido total liberdade ao arquitecto, coisa rara no país da brava pataria que “sabe o que o consumidor quer” - , dentro do rigoroso cumprimento da lei, dos índices das taxas, dos pdm’s, do que se quiser. O objecto em projecto é proposto e aprovado pela administração da cidade. Por pressão mediática do bom-gosto ofendido, o objecto é desaprovado, na confirmação das políticas erráticas e casuísticas que estruturam a cidade há décadas. Eloquente.
Sustentar todo um debate no “mono” desagradável à vista será tão intelectualmente sofisticado como acusar o cliente de cumprir todos os índices exigidos a que está sujeito o lote que possui. A acusação do pecado original do querer lucro, como arma retórica, é tão elucidativo como as motivações psicológicas e estéticas que sustentam todo a crítica ao “mau gosto” deste edifício. Inquinar a discussão com acusações de corporativismos, “amiguismos”, conluios, é, de todo em todo, lamentável. Existirão quatro coisas que Deus não conhece: o pensamento dos Jesuítas, os bens e propriedades dos Franciscanos, o número de congregações religiosas femininas existentes e as motivações do discurso e críticas arquitectónica urbanística portuguesa.
Voltando ao objecto, depois do processo.
O objecto de Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, que poderá até nem ser o mais estimulante, e isso aqui é irrelevante, será certamente mais interessante que o paupérrimo edifício que naquele lugar vai morrendo. Se a cidade é feita de tempo, é do tempo em que se sobrepõe a História, a técnica, a cultura. São as camadas de hábitos e de habitares que vão adensando os lugares, em continuidade e em rupturas. O argumento da ruptura, como momento negativo, como contraponto à modorrenta continuidade quotidiana é pois, soterrado no andamento histórico. Em ruas contíguas ao Lg. do Rato, (que não a Av. Álvares Cabral, porque a escala será outra), procurem-se cassianos, procure-se neles essa continuidade para onde a burguesia se inclina.
E a Garagem Vitória?, o brado que daria alguém hoje querer instalar uma garagem para automóveis no centro da cidade, com aquela “volumetria”. Mas o que aqui nos prende? A vista para o xafariz do Sr. Procurador? Pela própria geografia, ele estará sempre visível. As cérceas? Lisboa não tem cérceas, tem perspectivas – e é sempre curioso e preguiçoso este truque retórico da “altura”, do temível mono que nos rouba o sol, arcaico apego ao piso raso, colados à lama de Inverno e pó de Verão.
A cidade necessita, vive, destes encontros e desencontros. Mas há qualquer coisa de inefável neste debate, sobretudo a partir de um objecto que será certamente muito mais interessantes que os paupérrimos edifícios ainda ontem construídos ali ao lado – ouço já as vestais que guardam sacrossanto Ventura Terra – e porque os debates sobre a cidade são ocasionais, aleatórios, erráticos, como no fundo tem sido a administração da cidade – onde anda o Arqtº. Salgado? - sem qualquer relevância que a nossa paixão opinativa.
Desçamos do Rato ao Marquês. E desçamos do preconceito que pretende que a arquitectura tenha lugares apropriados à sua contemporaneidade. Como se a vida, a cidade, pouco mais fossem que comportamentos e gostos “museologisados”.
Subscribe to:
Posts (Atom)