Duas ou três coisas acerca da ‘esquizofrenia crítica’. Sufoco, será mais apropriado.
A devoção excessiva à singularidade, objectos, edifícios, autores, ergue-se a partir da obsessiva auto-assertividade, auto-consciência, auto-complacência, (auto-crítica?). É próprio da crítica a produção de um juízo – estético, ético, técnico, depende da ‘ambição crítica’. O problema que se nos coloca é ser essa produção crítica de acordo com os próprios fenómenos que observa. E é esta que se manifesta, que se ergue quase como manifesto. E nessa excessiva deslocação elidem-se a relações (críticas?) do objecto, da sua singularidade, no contexto e no confronto com tudo o que dele se exclui. Sobra o objecto autista e a crítica cega.
Ainda que saibamos que o lugar da crítica será justamente o de estabelecer ligações [não links], relações, entre o objecto e o mundo – quase que atrevo o real - o pensamento, acossado pelo ego-centrismo, torna-se mera vontade de afirmação, já não de representação.
Mas talvez tudo isto não passe de uma retórica insuportavelmente sentimental ou talvez seja o tempo de instituir a instabilidade como categoria crítica. Ainda depois de Derrida & Eisenman.
retórica insuportavelmente sentimental
o mundo é plano
Como um ícone, a arquitectura – os arquitectos – desejam, através da imagem, erguer-se do tempo que devora e da memória que obscurece. Artefacto da vaidade, liça da trivialidade doméstica – sobre o tecido (metáfora ao gosto da classe) mudo onde se derrama o desejo, a cultura, o mundo, ínfimas nódoas que constituem o quotidiano. A imagem condensada – presumimos que seja essa a pretensão - , pretende ser o século e o lugar, o tempo e o modo, sintetizados numas poucas toneladas de betão e ferro e vidro, tão iguais em todo o lado. É um desejo secreto e não dito, escapar a alguma irrelevância, que não neutralidade, que as coisas devem adquirir.
A arquitectura do ícone - o arquitecto do ícone - detesta a cidade. Exalta-se, inefável e narcísica, na auto-contemplação indulgente a que se permite chamar representação do mundo.
[Lisbon architecture graffiti by Someone - a rogue architecture student?, Pedro Gadanho, via SpaceInvading, via iconeye]
absurdo abrigo#2
- Reuni os pedaços que sobram.
Que nada se perca.
- Ia a passar e resolvi entrar.
- Deus esteja contigo.
- Não me conhece?
- É o filho do lavrador?
- Sou um pedreiro.
Construo casas.
Mas ninguém viverá nelas.
As pessoas querem construí-las elas próprias.
Querem fazê-lo, apesar de não saberem como se faz.
É por isso que muitas vivem em cabanas semi-acabadas.
Outras vivem em ruínas.
A maioria vagueia, sem abrigo.
És uma dessas pessoas que precisam de casa?
[A Palavra, Carl Th. Dreyer, 1955]
para a Teresa
interstícios: subsolo
Dir-se-ia, pelo exemplo, que as infra-estruturas são o que de mais importante existe numa cidade.<>
Lisboa underground, Pedro Mexia.
Viagem entre a vida e a morte pelas entranhas de Lisboa, Alexandra Lucas Coelho.
[Deixem Passar o Homem Invisível, Rui Cardoso Martins, 2009]
A arte do possível – arquitectura hardcore
A democratização dos processos e experiências cognitivas é o lugar de todos os paradoxos e de uma certa angústia face à emergência de novos paradigmas ou ausência destes. A Escola perde o seu carácter doutrinário e ideológico (como ainda e sobretudo no Movimento Moderno se observa), e torna-se o território por excelência da apreensão dos múltiplos caracteres de diversas ordens que confluem no projecto. Projecto como processo, lugar onde operam o subjectivismo individual (o ideal do artista que não está sujeito quer às condições quer às exigências do cliente, que advém da libertação individual do romantismo) e o empirismo na abordagem do património histórico e cultura da arquitectura. O que durante a aprendizagem da disciplina é positivo, desde o desejo de experimentação, da alegria da descoberta inerente a cada projecto, pode tornar-se, na passagem a uma prática efectiva na sociedade, um problema para os “jovens-arquitectos”, se esse acomular de experiências não for apoiado por um olhar objectivo à realidade.
Desde a falência das utopias modernistas e sobretudo neste tempo pós-modernista que a prática da arquitectura iniciou um processo de se (re)pensar, processo esse que percorre caminhos mais ou menos seguros, indo colher informação a fontes mais ou menos distantes da tradição arquitectónica. Em todo o caso, e para o que nos importa aqui, o caminho dos “jovens-arquitectos” na realidade portuguesa, parece-nos que o problema é menos estético e mais ético, mais programático e menos de gosto.
É quase consensual que a realidade em que os recém-arquitectos vão intervir não é a mais favorável, é talvez a mais dura com que sucessivas gerações de arquitectos se têm vindo a deparar. Partindo do pressuposto desta realidade onde é cada vez mais difícil a intervenção do arquitecto, é necessário averiguar em que momentos do projecto as condições práticas se tornam de uma extrema complexidade para lhes poder responder coma necessária eficácia e a desejada poética.
O que agora se apresenta como uma preocupação do poder político, o estado das cidades e o ordenamento do território, por todos afirmado como caótico, talvez não seja mais que a consequência de um clima de insuportável irresponsabilidade com que se foi construindo ao longo dos anos em Portugal. Isto e o acordo tácito entre o sector da construção e as instâncias políticas de decisão em fundar o crescimento económico do país através do incremento da construção. Assistimos agora à derrocada desta situação com um certo receio de vir a ser um pouco tarde... julgamos que aqui a responsabilidade é também dos arquitectos, por actos ou omissões. Do que nos foi dado a observar, a generalidade dos promotores carece de uma cultura social, para não dizer arquitectónica, subordinada ao interesse do máximo lucro em detrimento da consciente (generosa?) intervenção na paisagem das nossas cidades. Noutros termos, como consumidores de arquitectura que todos somos, não temos tido a suficiente exigência que poderia ser impeditiva deste panorama. É o exercício pleno do direito de cidadania que se deve sobrepor às “pressões do mercado”. As consequências destas observações são óbvias e contaminam, quando não determinam, o próprio projecto. Se é verdade que a arquitectura é a “construção do sonho” não é menos verdade que pela relevância social, económica e cultural, a arquitectura pode ser um instrumento de transformação da própria sociedade a vários níveis: do interesse e consequente (re)conhecimento da contemporaneidade arquitectónica por parte dos cidadãos, da melhoria da qualidade da arquitectura e das cidades, ao benefício imediato no modo como se vive o espaço que é o quadro primordial da nossa existência.
As possíveis estratégias a tomar face a esta situação podem decorrer de uma tentativa de resistência que o próprio projecto deve abraçar. Sendo que cada projecto é um problema diferente e com uma multiplicidade de respostas possíveis, é imperativo um rigoroso olhar para a realidade social, económica e cultural em que está compreendido. O lugar, o programa, o cliente, o orçamento disponível, a má qualidade da indústria da construção... tudo pode servir de pretexto para o encontro das soluções apropriadas segundo a criatividade do arquitecto. A ambição desta resistência reside no desejo de transformar aquilo que sem o esforço criativo poderá resultar banal, anódino, despojado de qualquer significado (cultural, social, simbólico), e que se traduz no não enriquecimento quer da experiência pessoal quer do património cultural. Isto implica um esforço prático decorrente dos escasso meios e das limitações que são impostos ao arquitecto mas com os quais ele terá de trabalhar. Nesta perspectiva, trabalhar tem um sentido operatório e uma conotação produtiva quase artesanal. Transformar já não exibe o carácter redentor apontado pelas vanguardas do início do séc.XX. O que se deseja é a inclusão das adversidades e felicidades que quotidianamente acontecem como matéria-prima da própria invenção arquitectónica. Uma abertura aos condicionamentos que se sobrepõem no estirador e que invadem o papel branco mesmo antes do pensamento da arquitectura. Um exercício que resulte no reconhecimento do papel do arquitecto e no pluralismo de das arquitectura propostas. Numa arquitectura que não se desmorone no primeiro confronto com o mundo e a multiplicidade de escolhas que nele ocorrem. Uma arquitectura que seja o palco da liberdade que essas escolhas implicam.
É talvez um exercício de paciência que cada vez mais se exige ao recém-arquitecto, um jogo onde todas as subtilezas podem adquirir uma importância essencial. É a partir de um olhar objectivo sobre a realidade que cada um pode construir o seu caminho, ajustado a essa mesma realidade. Uma consciência que ajuda a ultrapassar alguns mitos como a originalidade, a novidade, a futilidade do gesto espectacular, mas mais eficaz na resolução dos problemas com que a sociedade se confronta. Uma possibilidade de sustentar as diversas estratégias de aproximação ao projecto, explorando as possibilidades técnicas e sociais que a contemporaneidade nos oferece. A prática da arquitectura com o inerente esforço crítico que compreende não pode ficar refém das contrariedades do meio em que se insere, mas partir deste para ser a interferência na máquina do complexo socio-cultural em que vivemos em benefício deste. Convocando os mestres-heróis do modernismo, a arquitectura pode concorrer para a transformação social. É aqui que reside a subversão generosa do sonho de querer ser arquitecto.
[in nº205 Jornal Arquitectos, primeiro post, faz seis anos. tão jovens e inocentes.]
da existência das ordens profissionais e também da dos arquitectos
Sou licenciado em Economia. Tenho dois mestrados e um doutoramento em Economia. Sou professor de Economia numa universidade pública. Sou membro da Associação Económica Europeia. Tenho artigos publicados em revistas científicas internacionais de Economia. Com todas estas qualificações, o Estado português não me reconhece como economista. Porquê? Porque não estou inscrito na Ordem dos Economistas.
Quais as consequências de não estar inscrito na Ordem? De acordo com artigo 4.º dos seus Estatutos, não posso fazer “análises, estudos, relatórios, pareceres, peritagens, auditorias, planos, previsões, certificações e outros actos, decisórios ou não, relativos a assuntos específicos na área da ciência económica”. Resta-me, sempre que quiser elaborar um destes estudos, pedir a um meu aluno que assine por mim.
A Ordem dos Economistas não é um exemplo isolado. A pouco e pouco, Portugal tem-se tornado num estado corporativo. Advogados, arquitectos, biólogos, enfermeiros e muitos outros organizam-se em torno de corporações profissionais. Há ainda Pró-Ordens para psicólogos e professores.
Por que existem estas corporações profissionais? Tipicamente, argumenta-se que determinadas actividades são muito exigentes e especializadas e que os prejuízos que maus profissionais causariam à sociedade seriam tremendos. De seguida, diz-se que os profissionais no activo estão em melhores condições para definir os requisitos da sua profissão.
Esperar-se-ia que as Ordens Profissionais e outras corporações dessem formação adequada sobre o exercício da profissão e que procedessem a um controlo de qualidade, punindo infracções a códigos deontológicos. É isto que observamos? Claramente, não. Há uns anos, por exemplo, não houve qualquer condenação aos médicos que passaram centenas de atestados a alunos de Guimarães para faltarem aos exames. Há uns dias, a Inspecção-Geral de Saúde concluiu que a um número alarmante de baixas médicas nem sequer correspondia um único registo clínico do “doente”. De ambas as vezes, a reacção da Ordem dos Médicos foi dizer que os médicos não são polícias. Se nem com estes escândalos mediáticos as Ordens actuam, o que esperar no dia-a-dia? Na verdade, em vez de garantirem as melhores práticas, as Ordens protegem, de uma forma autista, os seus associados.
A única acção visível da Ordem dos Médicos tem sido a de limitar o número de médicos. Desde que existe, tem-se esforçado por impedir a abertura de novos cursos de medicina e o aumento do número de vagas nos cursos já existentes. Quase sempre com sucesso. Os farmacêuticos têm conseguido impedir a abertura de novas farmácias. Mesmo a ténue e meritória liberalização ensaiada pelo governo Sócrates serve os interesses das farmácias instaladas. A Ordem dos Notários quer o monopólio da autenticação de documentos. A Ordem dos Arquitectos recusou-se a reconhecer o curso de Arquitectura da Universidade Fernando Pessoa. A Ordem dos Revisores Oficiais de Contas exige uma licenciatura adequada e obriga os candidatos a sujeitarem-se a quatro exames escritos e um oral. Cada exame custa 300 euros. Antes dos exames os candidatos são aconselhados a frequentar um curso de preparação com quatro módulos, que decorre ao longo de um ano. O custo de cada módulo é de 1650 euros. A pequena minoria que passa nos exames tem ainda de fazer um estágio de três anos com remunerações baixíssimas.
As estratégias variam, mas o objectivo é o mesmo: criar barreiras hercúleas que impeçam o acesso à profissão. É este o papel das Ordens. Restringir a oferta e a concorrência. Os efeitos de tamanhos obstáculos são óbvios. Já em 1776, Adam Smith escrevia que "os privilégios exclusivos das corporações, os estatutos de aprendizagem, e todas as leis que, em empregos determinados, restringem a concorrência (...) tendem a sustentar salários e lucros a um nível superior à sua taxa natural. Tais sobrevalorizações podem durar tanto quanto as regulamentações que lhe deram origem".
Não vale a pena ter ilusões. As Ordens, e outras corporações profissionais, servem para garantir remunerações anormalmente elevadas aos seus associados, perpetuando os seus privilégios, prejudicando e subjugando o interesse público a interesses privados.
Luís Aguiar-Conraria
via De Rerum Natura
metablogger
i.
[...]quotidiana desvalorização do pensamento crítico.
João Lopes
ii.
As fãs dizem que não. Diz que sou mais bonito e assim.
Eisenman's six point plan
14 May, 2008
Peter Eisenman set out his thoughts on architecture at RIAS 2008
Point one: Architecture in a media culture
Media has invaded every aspect of our lives. It is difficult to walk out on the street or stand in a crowded elevator without encountering people speaking into cellular phones at the top of their voices as if no one else was around. People leave their homes and workplaces and within seconds are checking their Blackberries. Their iPhones provide instant messaging email, news, telephone and music—it’s as if they were attached to a computer.
Less and less people are able to be in the real physical world without the support of the virtual world. This has brought about a situation in which people have lost the capacity to focus on something for any length of time. This is partly because media configures time in discrete segments.
Focus is conditioned by how long one can watch something before there is an advertisement. In newspapers stories keep getting shorter, the condensed version is available on the internet. This leads today to a corruption of what we think of as communication, with a lessening of the capacity to read or write correct sentences. While irrelevant information multiplies, communication diminishes. If architecture is a form of media it is a weak one. To combat the hegemony of the media, architecture has had to resort to more and more spectacular imaging. Shapes generated through digital processes become both built icons that have no meaning but also only refer to their own internal processes. Just think of any architectural magazine today devoted, supposedly, to the environment, and instead one finds media.
Point two: Students have become passive
The corollary to the prevalent media culture is that the viewing subject has become increasingly passive. In this state of passivity people demand more and more images, more visual and aural information and in a state of passivity people demand things that are easily consumed.
The more passive people become the more they are presented by the media with supposed opportunities to exercise choice. Vote for this, vote for whatever stories you want to hear, vote for what popular song you want to hear, vote for what commercial you want to see. This voting gives the appearance of active participation, but it is merely another form of sedation because the voting is irrelevant It is part of the attempt to make people believe they are participating when in fact they are becoming more and more passive.
Students also have become passive. More passive than students in the past. This is not a condemnation but a fact. To move students to act or to protest for or against anything today is impossible. Rather they have a sense of entitlement. The generations that remember 1968 feel that those kinds of student protests are almost impossible today. For the last seven years we have had in the US one of the most problematic governments in our history. Probably the most problematic since the mid-19th century and president Millard Fillmore. Our reputation in Europe, our dollar, our economy, the spirit of our people, has been weakened. In such a state of ennui people feel they can do little to bring about change. With the war in Iraq draining our economy there is still the possibility that the political party responsible for today’s conditions will be re-elected.
Will this have consequences for architecture?
Point three: Computers make design standards poorer
This passivity is related to architecture. Architecture today relies on one of passivity’s most insidious forms—the computer.
Architects used to draw volumes, using shading and selecting a perspective. In learning how to draw one began to understand not only what it was like to draw like Palladio or Le Corbusier but also the extent of the differences in their work. A wall section of Palladio felt different to the hand than one of Le Corbusier’s. It is important to understand such differences because they convey ideas. One learned to make a plan. Now, with a computer, one does not have to draw. By clicking a mouse from point to point, one can connect dots that make plans, one can change colours, materials and light. Photoshop is a fantastic tool for those who do not have to think.
The problem is as follows. “So what?” my students say, “Why draw Palladio? How will it help me get a job?” The implication is this: “If it’s not going to help me get a job, I don’t want to do it.” In this sense, architecture does not matter. In a liberal capital society, getting a job matters, and my students are in school precisely for this reason.
Yet education does not help you get a job. In fact, the better you are at Photoshop the more attractive you are to an office, the better you will work in that office.
If I ask a student to make a diagram or a plan that shows the ideas of a building, they cannot do it. They are so used to connecting dots on a computer that they cannot produce an idea of a building in a plan or a diagram. This is certain to affect not only their future, but the future of our profession.
Point four: Today’s buildings lack meaning or reference
The computer is able to produce the most incredible imagery which become the iconic images of magazines and competitions. To win a competition today one has to produce shapes and icons by computer.
But these are icons with little meaning or relationship to things in the real world. According to the American pragmatist philosopher C S Peirce there were three categories of signs: icons, symbols, and indices. The icon had a visual likeness to an object.
Robert Venturi’s famous dictum categorised buildings as either “a duck or a decorated shed”; the difference between an icon and symbol in architectural terms.
A “duck” is a building that looks like its object—a hotdog stand in the form of a giant hotdog or, in Venturi’s terms, a place that sells ducks taking the very same shape as a duck. This visual similitude produces what Peirce calls an icon which can be understood at first glance.
Venturi’s other term, the “decorated shed”, describes a public facade for what amounts to a generic box like building. The decorated shed is more a symbol, in Peirce’s terms, which has an agreed upon, or conventional meaning. A classical facade symbolises a public building, whether it is a bank a library or school.
Today the shape of buildings become icons which have none of these external references. They may not necessarily look like anything or they may only resemble the processes that made them. In this case they do not relate outwardly but refer inwardly. These are icons that have little cultural meaning or reference. There is no reason to ask our more famous architects: “Why does it look like this?”
There is no answer to this question because “Why?” is the wrong question.
Why? Because the computer can produce it. One could ask these architects: “Why is this one better than that one?” Or “Which one of the crumpled paper buildings is better?” Or “Which one is the best and why?”
There is no answer again to these questions. Why? Because there is no value system in place for judging, and there is no relationship to be able to judge between the image produced and its meaning as an icon.
These icons are made from algorithmic processes that have nothing to do with architectural thinking.
Point five: We are in a period of late style
Edward Said in his book On Late Style describes lateness as a moment in time when there are no new paradigms or ideological, cultural, political conditions that cause significant change. Lateness can be understood as a historical moment which may contain the possibilities of a new future paradigm.
For example there were reasons in the late 19th century for architecture to change. These included changes in psychology introduced by Freud; in physics by Einstein; in mathematics with Heisenberg; and in flight with the Wright brothers. These changes caused a reaction against the Victorian and imperial styles of the period and articulated a new paradigm: modernism.
With each new paradigm, whether it is the French revolution or the Renaissance, there is an early phase, which in modernism was from 1914-1939; a high phase, which in modernism occurred 1954-1968 when it was consumed by liberal capital after the war; and a period of opposition. The year 1968 saw an internal, implosive revolution, one that reacted against institutions representing the cultural past of many of the western societies. This was followed by post modernism’s eclectic return to a language that seemed to have meaning. The Deconstructivist exhibition at the MoMA in 1988 put an end to this cliché and kitsch style.
Today I say we are in a period of late style. A period in which there is no new paradigm. Computation and the visual may produce a shift from the notational but this in itself is not a new paradigm. It is merely a tool. The question remains: What happens when one reaches the end of a historical cycle? On Late Style by Edward Said describes such a moment in culture before a shift to a new paradigm. A moment not of fate or hopelessness but one that contains a possibility of looking at a great style for the possibility of the new and the transformative. He uses as an example Beethoven’s Missa Solemnis, written at the end of Beethoven’s career. This was the composer’s response to the seeming impossibility of innovation. Instead Beethoven wrote a piece that was difficult, even anarchic, that could not be easily understood and was outside of his characteristic and known style. Beethoven’s later work is an example of the complexity ambivalence, and the “undecidability” that characterises a late style.
Point six: To be an architect is a social act
This last point deals with architecture and its unique autonomy. Since the Renaissance in Italy when Brunelleschi, Alberti and Bramanti established what can be called the persistencies of architecture—subject-object relationships—these persistencies have remained operative to this day. Alberti’s dictum that “a house is a small city and a city is a large house”, remains with us in all works that we see. In other words the relationship between the part and the whole: the figure and the ground, the house to its site, the site to the street, the street to its neighbourhood and the neighbourhood to the city.
These issues constitute the basis of what would be called the dialectical synthesis as an aspect of the ongoing metaphysical project. Thus one of the things that must be investigated is the problematic part-to-whole relationship—which is part of a Hegelian dialectical idea of thesis and anti-thesis forming a new whole or synthesis—and the relationship of building to ground.
Architecture has traditionally been concerned with these dialectical categories, whether it is inside/outside, figure/ground, subject/object. For me today, it is necessary to look within architecture to see if it is possible to break up this synthetic project from within. This attempt is what post-structuralism would consider the displacement of the metaphysics of presence.
If we continue to think that what is presented is necessarily truthful or what we see is truthful and also beautiful then we will continue to subscribe to the myth that architecture is the wonder of the metaphysics of presence. It may become possible with such an awareness to move away from what I call the hegemony of the image.
People always say formalism is the project of architecture’s autonomists. For me it is precisely this autonomy which is architecture’s delay of engaging with society. If it is architecture’s activity and its own discourse which in fact impacts society, then to be an architect is a social act.
This does not mean social in the form of making people feel better or happy. Or building houses for the poor or shopping malls for the rich or garages for Mercedes. I am talking about understanding those conditions of autonomy that are architectural, that make for an engagement with society in the sense of operating against the existing hegemonic social and political structures of our time. That is what architecture has always been.
Peter Eisenman
Com devida vénia ao António.
creative treatment of actuality

Art is not a mirror, but a hammer. It is a weapon in our hands to see and say what is good and right and beautiful.
John Grierson
À distância de um século das visões progressistas, já elidimos o bem e o verdadeiro. Já só resta o belo. Já só resta. E quando acontece é um milagre. O milagre. E é bom e é verdadeiro. Moral da história, sobra-nos o quotidiano. Uma moral do dia-a-dia. Não será pouco.
[Drifters, John Grierson, 1929]
Tributar um post a um homem, que se não conhece, é um pedaço menina, ainda que este blog manifeste uma virilidade melancólica. Em todo o caso remeto-o, o post, para Nova Iorque.
atmospheres
Kiosk 2008
The installation is a three minute experience of sight, hearing, smell and touch with an arbitrary selection of atmosphere. The object itself has a pop and comic book - like image, suggesting the Red Telephone Box in a subtle way. The experience inside the kiosk is a synthesis of sensorial aspects of the four atmospheres, stimulating the visitor senses with distant landscapes features. The decomposition of the multiple aspects of landscape is also a challenging – though extremely difficult to achieve - analytical exercise. Kiosk 2008 is about our perception of the world and the correlations we establish. The contribution of an urban characteristical element - such as the Red Telephone Box - to the character of a city is parallel to the importance of natural phenomena to the identification of a landscape.
inconsciente colectivo
[...]
Mas nem por não se ter qualquer solução a curto prazo, a sociedade, nós todos, devemos deixar de olhar para cada um destes desempregos colectivos de mulheres sem a preocupação de vermos e sentirmos a devastação que ele tem por trás, o atraso social que isto significa para Portugal. Estas mulheres não vão educar os seus filhos da mesma maneira, vão reproduzir melhor o Portugal antigo do que preparar o novo. Elas sentem que falharam, tinham algumas ilusões que perderam. Mas nós falhamos mais se não temos a consciência de fazer alguma coisa. Porque se pode, na acção cívica, no voluntariado, no mundo empresarial, na política, fazer muita coisa por estas mulheres. O que é preciso é vê-las e à sua condição e não as cobrir com o manto diáfano da inevitabilidade. A começar pelo Governo, que mais uma vez se vai voltar para o betão e não para as pessoas.
José Pacheco Pereira, Público, 03.05.2008
Onde param os arquitectos portugueses?
Agora que se repetem as eleições para a Direcção Nacional da Ordem dos Arquitectos, é porventura importante perguntar onde tem parado os arquitectos portugueses nos tempos mais recentes.
Quando há 10 minutos atrás se abateu o silêncio ensurdecedor sobre o facto do primeiro-ministro português assumir a autoria do que podem ser considerados crime estéticos e uma aberração cultural, pareceria lógico perguntar onde param os arquitectos portugueses.
Agora também urge perguntar onde eles param quando, numa espécie de projecção suicida das tendências vigentes entre a população portuguesa, é esperada uma participação de cerca de 15% nas eleições para a Ordem dos Arquitectos.
Falta de auto-estima da classe profissional? Falta de opções? Ou pura falta de interesse? Alguma coisa está certamente em falta.
Face a outras classes profissionais liberais que disputam árdua e publicamente aqueles que vão representar os seus destinos, os arquitectos portugueses espelham bem o estado corrente do país.
Não é de admirar que exista um absentismo absoluto. Com a explosão “democrática” dos cursos de arquitectura, os arquitectos deste país são hoje uma perfeita amostra demográfica do país que temos. E ainda bem.
Porém, o que é eventualmente mais grave é que, apesar da sua formação superior, os arquitectos podem, assim, estar a ecoar a cultura cívica – ou a crise social de que falava a Sedes – com que hoje contamos em Portugal.
Comecemos pela crise.
Não é de excluir a hipótese de que o absentismo eleitoral dos arquitectos se explica por razões bastante prosaicas.
A maior parte dos arquitectos, nomeadamente os mais jovens e desfavorecidos da classe não votam porque... não pagaram as quotas!
E porque é que não pagaram as quotas? Porque estão desempregados ou porque são tão mal remunerados que tem naturalmente que remediar outras necessidades mais básicas. Interessante, não é?
Isto sugere imediatamente que, se estão verdadeiramente interessados na participação eleitoral, os candidatos aos órgãos nacionais da Ordem dos Arquitectos deviam acordar um pacto de regime súbito: uma amnistia – ou, ecoando a extraordinária flexibilidade legislativa portuguesa, uma alteração estatutária temporária – para permitir que todos votassem nestas eleições.
Adiante. Subsistem ainda algumas outras possibilidades para justificar o absentismo geral dos arquitectos.
Também é verdade que muitos dos 16.000 arquitectos a que me refiro estão no estrangeiro. Face a uma tendência autofágica da classe arquitectónica portuguesa – que também lembra outra coisa qualquer – muitos dos arquitectos recentemente formados decidiram, pura e simplesmente, emigrar.
Isto é, o investimento e a permissividade do Estado na formação superior desta classe traduz-se, como já acontecia com cientistas e outras especializações de ponta, em exportação de cérebros ou de mão de obra competente, enquanto por aqui nos vamos lamuriando de desordenamento do território. Interessante, não é?
Esta é, aliás, uma resposta à questão que dá título a este artigo que combina perfeitamente com o equívoco ético e estético que recentemente envolveu o engenheiro civil José Sócrates.
De facto, para quê pagar o custo dos serviços, dos recursos humanos e da competência técnica nas quais o Estado investiu os impostos dos contribuintes, se ainda há por aí uns chico-espertos que dão conta do recado e da paisagem?
Os chico-espertos – que às vezes até são arquitectos pois, afinal, eles também “andem aí...” – saem mais barato, têm uns contactos na Câmara local que “facilitam a coisa” e até foram os primeiros a perceber que mais vale fazer o gosto ao dedo do cliente, que isto não está para modas.
Mas, perguntar-se-á então, a arquitectura não estava na moda?
Depois da celebração e da celebridade de Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura, os arquitectos não deveriam andar por aí felizes da vida?
Não adquiriram prestígio social e profissional?
Não obtiveram reconhecimento no “estrangeiro”?
Não tiveram, nos últimos 15 anos, maior exposição mediática interna do que médicos, advogados e engenheiros?
Tendo eu realizado um doutoramento sobre a visibilidade da arquitectura em meios generalistas como o jornal O Público, posso assegurar que todas estas hipóteses são sustentadas e confirmadas por dados objectivos. À excepção, claro, da parte da felicidade.
Curiosamente, em Portugal, a celebridade, a projecção e o prestígio não fertilizaram o campo. Deve ser uma característica endógena. Ou o facto de, apesar das aparências, sermos um país estruturalmente pobre.
As circunstâncias mudam e as conjunturas também e, depois de uma prolongada ascensão demográfica e mediática, os arquitectos portugueses parecem, de novo, ter desaparecido para parte incerta.
Apesar das campanhas do “direito à arquitectura” – já agora, algum não arquitecto ouviu falar disto? – os portugueses ainda não parecem estar dispostos a pagar a mais-valia do serviço arquitectónico.
Isto também justifica a ausência dos arquitectos.
E donde vem o problema? Será que os portugueses não valorizam ou não podem valorizar a sua qualidade de vida ao nível de outros países europeus? Será que não podem, pura e simplesmente, pagar os serviços de um arquitecto preferindo assim entregar-se assim às competências dos chico-espertos? Será que têm de facto a sua própria cultura de gosto e preferem decidir por si? Ou será que a tabela de honorários dos arquitectos é desadequada à realidade do país? Ou serão as regras de mercado que estão a distorcer a oferta e a procura? Ou acontecerá, afinal, simplesmente, que os arquitectos deviam ser pagos por área a edificar e respectivo preço médio oficial de construção em vez de auferirem remunerações que flutuam com o preço final de obra – assim se acabando com muitos jogos de bastidores que prejudicam clientes e destinatários e assim se esvaziando também as distorções deontológicas que fazem com que seja um contrasenso económico para o arquitecto invistir tempo e recursos na redução de custos de obra do seu cliente?
Das mais gerais às mais prosaicas, estas, como muitas outras, são questões que justificam uma tomada de consciência e de posição dos arquitectos e dos seus legítimos representantes face à imagem que projectam de si próprios enquanto classe profissional.
Dado o contexto particular da nossa auto-proclamada “West Coast,” talvez os portugueses ainda não tenham percebido, de facto, qual o papel que a arquitectura pode desempenhar no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida colectiva.
Afinal, a maioria dos portugueses só sabem de longe da vã gloria dos centros culturais desenhados por arquitectos de “qualidade arquitectónica reconhecida” que, entretanto, tem as suas portas encerradas por faltas de verbas, programas e atractivos. E alguns mais iluminados só sabem que se tiverem dinheiro para investir em condomínios privados de luxo é bom que haja um “arquitecto de renome” envolvido.
Visto que assim já sabemos onde param os portugueses, onde param, entretanto, os arquitectos portugueses?
Onde param os candidatos a estas eleições da Ordem dos Arquitectos, esses que devíamos estar a ver e ouvir nos media de massa a exporem os seus programas, as suas opiniões públicas, as suas posições, as suas diferenças, as suas reflexões e proposições sobre o estado da prática da arquitectura em Portugal?
Onde param, neste preciso momento, as luminárias da arquitectura portuguesa, essas que prometeram mais intervenção crítica e social?
Onde param os críticos de arquitectura e os formadores de opinião, esses que, neste preciso momento, deviam estar a contrapor visões e perspectivas sobre o que precisa de mudar nos consensos excessivos em torno das vias únicas que actualmente caracterizam a arquitectura portuguesa?
E, para além dos emigrados, dos desenrascas e dos dignos representantes da geração rasca, onde param esses “ “jovens arquitectos” que constituem a maior parte dos arquitectos inscritos na Ordem e que agora se remetem, como é sua condição geracional mais vasta, a um silêncio comprometido com o status quo?
Por este andar, onde vão parar os arquitectos portugueses?
Pedro Gadanho
[via O Despropósito]