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interiores/exteriores


[Estado de Guerra, Kathryn Bigelow, 2008]



Ainda The Hurt Locker, interiores/exteriores.
Interiores:
A caserna provisória, que durará o tempo da guerra, estreita, austera, uma cama, uma mesa de cabeceira, o desejo do Sgt. James a fechar da luz com um contraplacado.
o Humvee e a economia militar, o estrito equipamento para manutenção da vida, o espaço mínimo de sobrevivência ao exterior violento.
Os planos claustrofóbicos do interior do capacete do equipamento anti-explosão: somos nós sempre enclausurados no interior do fato – sangue, suor, absurdo.
A casa do professor iraquiano, fugaz trivialidade e quotidiano dentro da guerra - não por acaso se tornou insuportável ao Sgt. James.

Exteriores:
Sempre mediado pelos dispositivos de guerra, pelas distorções telescópicas ou microscópicas do território.
A câmara inquieta, ansiosa, aflita, atribulada, sempre atenta ao perigo iminente que surge de qualquer lado, espada de Dâmocles a desabar a qualquer instante.

| João Amaro Correia | 6.10.09 |   | /

terrae incognitae


Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Octávia é menos incerta que noutras cidades. Sabem que mais do que um certo ponto a rede não aguenta.

[As Cidades Invisíveis, Italo Calvino]



O espaço inteiro da humanidade e da natureza implode. Integralmente conquistadas todas as suas dimensões [euclidianas e outras], o espaço cessa de ser um volume extensível através do qual e expansão não tem limites. A extensão deixa de ser expansiva. Torna-se intensiva – junções, condensações, compressões, potências de partículas ou de fibras infinitas, milhões de bits de energia ou informação em quase nenhum espaço-tempo – o espaço perde o seu pensamento, a sua disposição de amplitude e abertura. De certa forma o espaço não mais exactamente dimensional: a terra não é mais que um ponto, e o ponto é sem dimensões.
A consciência agonizada do re-encerramento engendra uma espécie de pensamento do espaço – pensamento que é ao mesmo tempo essa angústia e a luta com ela mesma, o ponto de partida de uma outra história, de um outro espaçamento.

| João Amaro Correia | 5.10.09 |   | /

uma razão para ir para a guerra


[Estado de Guerra, Kathryn Bigelow, 2008]




Aprende-se a lidar com a bomba e não se pensa nisso enquanto se desarma o detonador. Embedded, nós, espectadores, enclausurados no fato anti-explosivos. Claustrofobia para além de qualquer juízo.
primeiro vive-se e não se pensa em nada

| João Amaro Correia | |   | /

absurdo abrigo#2


- Reuni os pedaços que sobram.
Que nada se perca.
- Ia a passar e resolvi entrar.
- Deus esteja contigo.
- Não me conhece?
- É o filho do lavrador?
- Sou um pedreiro.
Construo casas.
Mas ninguém viverá nelas.
As pessoas querem construí-las elas próprias.
Querem fazê-lo, apesar de não saberem como se faz.
É por isso que muitas vivem em cabanas semi-acabadas.
Outras vivem em ruínas.
A maioria vagueia, sem abrigo.
És uma dessas pessoas que precisam de casa?


[A Palavra, Carl Th. Dreyer, 1955]

para a Teresa

| João Amaro Correia | 12.9.09 |   | / / /