We attain to dwelling, so it seems, only by means of building. Sigamos Heidegger e detenhamo-nos, depois, nessas efabulações humanas, militarizadas primeiro, domesticadas e abandonadas agora, tão ao alcance dos nocturnos ‘terrores repentinos’.
Em Wenders povoam Berlim, a cidade ferida pelo contraditório muro que a atravessa. Um muro de questões ridículas semeadas por homens a que assistem os anjos, excluídos de lhes alterarem o destino – o rapaz não espera para se suicidar. Ilusões incorpóreas de aparência humana, seres reflexo da solidão de Deus e testemunhas da queda humana, também eles desejam com estrondo cair. A fadiga da imortalidade trocada pelo corpo perecível, o corpo lugar transitivo.
[As Asas do Desejo, Wim Wenders, 1987]
Distinguimo-nos deles pelos elementos: observam ainda no seu tempo, que se conjuga sempre no tempo presente, os glaciares a derreterem, as primeiras cidades, sorriem ao verificarem o esforço do homem na Lua ; nós, carne corruptível, esforçámo-nos por abrir na rocha o primeiro abrigo, amontoámos pedras, organizámos o espaço, erguemos a memória dos mortos – a única possibilidade de arquitectura em Hegel -, necessitamos de recato para o sexo.
[Mãe e Filho, Aleksandr Sokurov, 1997]
Dividimos e organizamos o espaço pela linha do Sol. À hierarquia dos negócios diurnos substitui-se a necessidade de apenas uma minúscula parcela desse espaço onde depositemos o corpo.
[Adolf Loos]