a gravidade e a graça*
[Casa das Histórias Paula Rego, Eduardo Souto Moura, 2009]
Que possamos entrar num edifício quer dizer que a sua experiência sobre nós é tal que, paradoxalmente, é ele que entra em nós – que nos habita. E torna-se-nos necessário falar da transubstanciação.
Porque a arquitectura, como produção de espaços, não tem início nem fim, como na singularidade poética da promenade architecturale: formas sob a luz, dentro e fora, em cima e em baixo. Fora, aproximamo-nos e olhamos e interessamo-nos e desejamos e percorremos em volta e descobrimos e regressamos. Dentro, entramos e caminhamos, olhamos ao caminhar e as formas explicam-se e desenvolvem-se e combinam-se. Não cessamos, não cessa em nós, a desocultação da forma pelo espaço.
De facto, trata-se de determinar qualquer coisa como uma ‘essência’ da arquitecturalidade, se a sua definição, por hipótese, é ser um saber que consiste em dar lugar aos objectos de todas as naturezas que não são eles mesmos produtos desse saber.
*Simone Weil
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