'esvaído'
[Estrada Nacional 1, Batalha]
lembro-me das horas sobre o mar
do surdo rumor do casco dos navios
da tua boca colada à paixão dos mapas primitivos.
entretanto o teu corpo corre devagar para o litoral
e as casas por detrás dos cabelos são brancas
loucamente brancas.
no princípio eram as paredes
e havia o teu riso altíssimo encostado aos dias que
morriam nas paredes.
quem destruiu tudo isso?
quem matou as aves nos ramos da tua loucura?
oiço este rio que corre longe de mim longe de tudo
este corcel galopando pelos países -
quem canta esta noite?
entretanto tu atravessas a minha poesia com espadas de
neve
e falas de casas como quem fala do surdo rumor do casco
dos navios -
quem canta esta noite?
e o teu corpo vai correndo devagar para o litoral
e as casas por detrás dos teus cabelos são brancas
loucamente brancas.
[E as casas são brancas loucamente brancas, José Agostinho Baptista]
Ajustar os lugares para benefício dos homens na terra, rasgar pontes, desenhar fachadas ostentatórias, construir para a memória os monumentos e os túmulos, conceber o espaço vazio – a praça – onde os indivíduos passam e se cruzam, organizar os solos, abrir portas e janelas, fazer o espaço indizível: a arquitectura não descansa.
p.s. São poucos os lugares excluídos à asfixia.
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- on 26.9.09
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- casas, poíesis, portugal pós-moderno
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