Mas eu amo este país mais do que todos os outros,
Tanto é que aqui estabeleci a minha morada.
Ovídio
La zonage, en tenant compte des fonctions clefs: habiter, travailler, se récréer, mettra de l’ordre dans le territoire urbain. La circulation, cette quatriéme fontion, ne doit avoir qu’un but: mettre les trois autres utilement en communication.
Carta de Atenas
O provincionamismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela – e segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação consciente e feliz.
Fernando Pessoa
[Montijo]
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Perdoam-se os arquitectos, uns aos outros, entretidos com capas das revistas ou a fazer pela “vidinha”, perdoam-se os políticos, pelo viver habitual pátrio, perdoam-se os urbanistas, subtraídos à forma das cidades, perdoam-se os engenheiros, mais interessados em abrir as hiper-vias do futuro, perdoam-se os consumidores, que tudo devoram desde que tenha cachet, mas não se perdoam as cidades. E elas crescem pela corrente de qualquer coisa que não sabemos ainda entender bem. Não é da sociologia, nem da racionalidade pura da contagem dos minutos até ao centro da cidade, não é da arquitectura, porque já tudo é um pouco feio, não é da cultura, porque essa já é quase igual em todo o lado. Faltam-nos cidades civilizadas. Falta-nos a liberdade de poder dizer, aqui, e habitar aqui, sem razão aparente, apenas porque se gosta ou detesta e não porque nos condenamos a ser remediados e com a vida e as cidades adiadas.
Persistimos, técnicos e cidadãos, no total abandono, desleixo, com que desistimos das cidades. Reproduzem-se os mesmos "modelos", habituados, desadequados, envelhecidos, experimentados e negados, apenas porque há um “modelo”. Mas as cidades recusam um “modelo”. A história recorre ao sabor da irracionalidade do desejo e, o desejo de quem faz a cidade portuguesa, é pobre, infeliz e triste, e apresentado com o vigor com que o novo design de comunicação nos abraça em promessas de um futuro que faz esquecer o presente.
E a nossa modernidade, anacrónica e já fora da história, é um zonning obtuso, custeado por grandes pequenos médios promotores, complacentes arquitectos, passivos cidadãos, aos quais a política se submete. São as aspirações centrais e o jacuzzi e a hidromassagem sem tempo, mas com a esperança de que um dia, as novas acessibilidades restituam alguns minutos perdidos na ansiedade da viagem madrugadora – a 20 minutos de Lisboa, dizem. A nossa contemporaneidade é o abandono e o desamor da paisagem, o libidinal betão armado convertido rapidamente em ouro e em deserto.
Tudo a 5 minutos do centro da cidade – já só falta querer viver na cidade.