voltar p’ra casa/regressar ao pobre jardim
A duração é o que de nós e em nós produz a significação da realidade. É a organização da vida. Não no tempo dos relógios, não na narrativa linear das coisas que se sucedem nos rumores do jornalismo. A sucessão é aleatória, subordinada ao regime da consciência. É a sucessão das imagens que nos habitam e não dos conceitos que erguemos e reduzem a realidade ao catálogo ambíguo das palavras. Uma espécie de complacência onde o que importa é a aguda consciência do eu no mundo. A suspensão, a epoché, a nova ordem que emerge da supressão da realidade, o caminho de regresso a nós mesmos. O regresso ao eu como registo e fixação e inscrição do eu-no-Mundo. Duração como recuperação e regresso da experiência do real.
A experiência contínua, não sucessiva, irrepetível, dos lugares e das coisas. A experiência e o desejo do consolo do mundo: o belo é a transcendência do mortal ressumado, na sua “inteligência” – racionalidade – à sua condição passageira – animal.
O elogio do tempo, da efemeridade das coisas que permanecem, que nos conduz à união. Ser vivo com as coisas do mundo. O lugar é chíasma, o salto, o abismo e o regresso.
E finalmente:
feliz todo aquele que tem os seus locais de duração;
porque, mesmo que para sempre seja forçado a partir para uma terra estranha,
sem esperança de regressar ao seu próprio ambiente, não será jamais um expatriado.
E os locais da duração também nada têm de notável,
muitas vezes nem estão assinalados em nenhum mapa
ou não têm no mapa qualquer nome.
Um modelo perfeito do mundo inteiro.
[...] a festa de agradecimento da presença no lugar.
Impulso temporal da duração, tu rodeias-me
de um espaço descritível
e a descrição cria o espaço que se lhe segue.
[...] acabo por não ser simplesmente só eu.
A duração é o meu desprendimento,
ele deixa-me sair e ser.
[Poema à Duração, Peter Handke]
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