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O socialista Joaquim Raposo admite que a Amadora ainda "está longe" do conceito de cidade-jardim que os seus fundadores ambicionavam, mas considera que muito tem sido feito para mudar a face do centro urbano. O presidente da câmara aposta, no entanto, numa "nova centralidade" para a cidade, entre a antiga zona industrial e a Quinta do Estado.
Os planos estão a cargo dos arquitectos Manuel Salgado, Norman Foster e Gonçalo Byrne. "O novo centro da Amadora não se faz só com habitação, faz-se naturalmente com alguma indústria, escritórios e equipamentos", afirma Raposo, defendendo que, nos novos empreendimentos, a componente habitacional não ultrapasse metade da ocupação total. Na Quinta do Estado, junto ao metro da Falagueira, que vai ser prolongado até à estação ferroviária da Reboleira, o plano de pormenor deve prever uma zona verde e pequenos bairros, para além da câmara e do tribunal. O metro ligeiro de superfície, de inciativa público-privada, ligará o metro aos casais da Mina e de São Brás.
Público, 28.10.2007, p.22
Naturalmente que a política medíocre de tudo se apropria e recorre ao que está mais na moda e tem ar modernaço. “Novas centralidades”, “multipolaridades”, “equipamentos”, “sustentabilidade”, “iniciativa público-privada”, “salas multiusos”, uma espécie de jargão autárquico entalhado entre o economês e o futebolês, dominantes, e que atribuem alguma pretensão de sofisticação a um discurso pouco menos que demagógico e populista – conceitos agora trivializados pela dupla cabeça pêpêdêpêéssedê. Sem saber do que falam, legitimam os verborreicos discursos e a acção política pelo saber, conhecimentos e práticas das disciplinas que reflectem sobre o território e as cidades. O truque é arcaico. É básico e frágil. Fútil e efémero e de decomposição ao alcance de um ser com o mínimo de ilustração.
A incapacidade do pensamento arquitectónico e urbanístico em desmontar estes comportamentos políticos pode ser observada a partir de muitas perspectivas, não sendo despiciendas as necessidades e contingências com que os escritórios de arquitectos e urbanistas se vêm confrontados na angariação de trabalho.
Mas mais evidente é o desgaste violentíssimo de recursos das nossas cidades e da erosão brutal da qualidade de vida nas mesmas. Se reflectirmos um pouco sobre as reproduções provincianas, há uns anos da Expo98, agora da panaceia Polis, que alastram por toda e qualquer pequena/média cidade, vemos que são operações que tentam salvar o que ainda vai a tempo de ser salvo, que pretendem atacar os cancros urbanos que foram alastrando com o beneplácito do poder político nos últimos trinta anos, e ambicionam projectar uma imagem de cidade para um mirífico futuro.
Sobre o passado e a forma como as cidades portuguesas cresceram basta termos em conta qual é a maior fonte de receitas de cada paróquia – o licenciamento da construção - , e o consequente ganancioso caos gerado pelo planeamento a metro, o compadrio já mais que debatido entre os construtores e os partidos políticos dominantes.
No presente há ainda muito que se poderá resguardar das mãos destes pequenos e cobiçosos poderes discricionários. Mas isso exige a intolerância de quem é pago para desenhar e pensar e dar pareceres - a decisão será sempre política e ainda bem - face às legítimas pressões políticas e à inadmissível incompetência na gestão da coisa pública. Exigiria política e ideologia, criatividade e inteligência. Mas seria pedir demais.
Sem este nervo crítico, os discursos polvilhados com nomes sonantes, com a glorificação bacoca das virtualidades da freguesia, com o pseudo-cosmopolitismo sem nenhuma densidade cultural e com a espessura do plasma pendurado no gabinete do sr. presidente da câmara, estamos condenados a repetir a história: a delapidação do erário público.
Não mais nem menos que isso é o que acontece com os Polis – tentativa ansiosa e saloia de resolver a indolência e irresponsabilidade do regime (perdoe-me Vasco Pulido Valente pela apropriação da crítica ao “regime”) - sem o mínimo entendimento do que são as nossas cidades, da forma como poderão crescer e aumentar a qualidade de vida dos cidadãos.
Sem uma concepção contemporânea, enraizada e ao mesmo tempo cosmopolita, pragmática e ética, da modo como vivemos e habitamos, vamos continuar a largar recursos e dinheiro em buracos sem fundo e a alimentar o inferno que são as nossas cidades. Que continuarão feias e desagradáveis apesar, ou por causa, de todo o botox, photoshop, liftings e peelings a que as submetemos - receitas rápidas de fácil exibição na lapela.
Por uma vez, pensemos em pequeno.
naturalmente
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- on 29.10.07
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- cidades, portugal pós-moderno
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