Ainda são necessários alguns quilómetros para poder estacionar o carro e sair da viatura com espanto e /ou admiração. Fora os sulcos gravados no território da arquitectura popular, que, construídos com sageza antiga, perduram na irracional razão do pôr-em-obra com a sabedoria olvidada.
Quilómetros vastos sem nada que justifique, no futuro, uma arqueologia dos dias que correm. Caminhos municipais que confirmam que este tempo do construir é a-histórico. Ou só histórico na medida em que se esqueceu das contingências do construir no mundo e já só lembra o acaso fora de qualquer mundividência. Ou esta é a mundividência da economia política, social e cultural portuguesas.
São escassos os exemplos onde se revela que da adversa condição da produção industrial se pode trabalhar-com uma ideia, com sabedoria, que seja possibilidade de fissura da crueldade do nosso modesto recatado cadinho.
4 módulos, orientados pelo sol; vãos abertos sem o trejeito totalitário do desenho de alçado, tão carrilhiano ou byrniano – abre-se um muro onde for necessário abrir um muro sem contemplações por “composições de fachada” ou de um imaginário alçado que só tem correspondência com o real na capacidade de abstracção do arquitecto; o desprezo pela ditadura do pormenor e pelo desenho em pretensão a gesto magnânimo e redentor do território e da condição humana.
O banal é o esplendoroso.
[Habitação Multifamiliar, Alvaiázere]
p.s. Pede-se, a quem conheça, que revele o nome do autor.