A planificação dos elementos apropriados de uma “fachada” com propósitos expressivos de determinada ideia é uma ideia tão velha como a tratadística da arquitectura: ritmo, proporção, harmonia, factos que relevam do desenho.
A tradição empírica da construção vernácula, não abandonando – nem questionando – estes conceitos, não propõe um exercício crítico na medida de uma intencionalidade compositiva. O apropriado aqui é-o em relação aos lugares, à tecnologia disponível para o erigir arquitectónico e a necessidade programática.
A inclusão de Byrne e de Carrilho no mesmo parágrafo acintoso para o desenho excessivo tem apenas a ver justamente com o tratamento performativo do desenho: o desenho não é meio, mas fim. O alçado vale por si, como peça autónoma, como desenho de intenções estéticas e programáticas. O zelo agudo com que se manipulam os elementos arquitectónicos em projecção abstracta, seguramente fundados na tradição disciplinar contemporânea, é que resultam na desqualificação da arquitectura como um todo: como espaço, volume, textura, cheiro, cor, e acima de tudo, como experiência. A sobreexposição ao desenho gerará certamente imagens bonitas mas, pior que isso, um totalitarismo que tudo quer regular e dirigir – o bom gosto, da casa ao parafuso da sanita. Aqui o domínio da representação, que é o do alçado, da planta, do corte, torna-se proeminente no acto da projectação, não o da indução da própria experiência arquitectónica.
Há, depois, mecanismos mais ou menos cínicos que por meio de artificiosos jogos florais legitimam esse desenho retórica e culturalmente. O “bonito” tem pudor em ser assumido: é politicamente correcto ir buscar a herança modernista ou pós-modernista para afirmar o simples gostar de uma janela assim ou um buraco com uma entrada de luz assado. E aqui entramos no reino do puro delírio racionalista que, qual rolo compressor, pretende-se legitimador de todos os discursos e de mais alguma coisa por dizer. Esta é a nossa herança: tudo tem que ser explicado e explicado porque racionalizado e tornado intenção em desenho. Simplesmente é feio dizer que é bonito, apenas porque sim.
É neste cruzamento que a “composição” passa a valer como conceito autónomo e a arquitectura obscurecida.
[Piet Mondrian, Composition No.10, 1939-42]
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