Labirinto

Arquitectura para além da representação do pensamento, arquitectura como possibilidade de pensamento que não se poderá reduzir ao estatuto de representação do pensamento. Aristóteles dá exemplo da associação teoria/prática, citando a “architeckton”, e a partir desta estabelece uma hierarquia política: a arquitectura é definida como uma arte de sistemas, como arte, logo passível de organização racional dos vários ramos do conhecimento. Antes da separação teoria / prática, entre pensamento e arquitectura, deverá, poderá, ter existido um modo de pensamento ligado ao evento arquitectónico. Se cada linguagem propõe uma espacialização, um concerto do espaço, que o não domina mas apenas dele se aproxima, é como a abertura de um caminho. Um caminho que não deve ser descoberto mas criado. É justamente esta criação de caminhos que não é de todo estranha à arquitectura: cada sítio, cada habitação, cada edifício está localizado num caminho, num cruzamento de caminhos onde a chegada e a partida são possibilidades. O caminho não é um método. O método é a técnica, o procedimento com o sentido de ganhar controlo do caminho, com o sentido de o tornar viável.

Caminho e método: há um caminho que não poderá ser confundido ou reduzido à definição de método. (Definição de método, tradição iniciada por Descartes, Leibeniz e Hegel, que oculta a sua natureza de ser “caminho” , quando indica infinidade do pensamento: pensar é sempre um caminho.) Esta infinidade de caminhos/pensamento conduz à metáfora arquitectónica do Labirinto.

A questão para a arquitectura é o sítio: ter lugar no espaço. Estabelecer um espaço que antes não existiu e fazê-lo conviver com o que um dia aí existirá, isto é sítio. Este acto é sempre técnico, tornar um lugar habitável: inventar algo que não existia antes e ao mesmo tempo que existe o “inhabitante”, o inventor, (homem ou deus), que necessita do sítio primeiro ou “apenas” uma causa para a sua invenção. E há sempre a inquietação da origem do lugar. Há talvez um labirinto, que não é nem natural nem artificial, o qual nós não habitamos. ( Tradição da filosofia ocidental da oposição natureza / tecnologia. Desta oposição surgem-nos dois labirintos: regressar ao lugar, à espacialidade; à escrita. Um processo des-construtivista, uma tentativa para a libertação das históricas oposições “physis / techne, deus / homem, filosofia / arquitectura. Des-construção analisa e questiona os pares conceptuais correntemente aceites como evidentes e naturais, que por serem tomados como garantidos restringem o pensamento.)

“des-construção”: não simplesmente a técnica de uma construção inversa quando proposta de construção. Nada de mais arquitectónico e nada de menos arquitectónico! O pensamento arquitectónico só pode ser des-construtivista neste sentido: uma tentativa para visualizar, a qual estabelece um encadeamento arquitectónico na filosofia. E deste ponto voltar para o que liga a des-construção com a escrita: a espacialidade, pensar em termos de “caminho”, percurso, da abertura de uma via – sem se saber onde esta irá dar – inscrita em traços, (vestígios?, riscos?). Olhando deste modo, poderemos afirmar que esta “abertura de caminhos” é uma escrita que não poderá ser atribuída ao homem, a deus ou ao animal, desde que, no seu mais amplo sentido, o lugar onde esta classificação – homem/deus/animal – pode tomar forma. E esta escrita é como um labirinto, porque não tem um início nem um fim. Há sempre e apenas o movimento: a oposição espaço/tempo, tempo de discurso/espaço do templo ou da casa não fazem mais sentido. Vivemos na escrita; a escrita é um modo de vida.




*desejo, dicionário de psicologia, lisboa, editora verbo, 1980

Aspiração a qualquer coisa que nos falta e que se pode pretender e de que se pode ter uma representação. Uma definição clássica o desejo reside na tendência e surge por subtracção dos elementos positivos da vontade. Pode não ter satisfação se a vontade não for vencedora. Ao mesmo tempo é por insatisfação que o desejo se define. Psicologicamente o desejo é a testemunha de uma chamada da líbido e traduz uma ausência: em última análise, o desejo é “o desejo de outra coisa, desejo de desejo e, por vezes, desejo de ter um desejo insatisfeito”.

tendência – impulso espontâneo que orienta a conduta do indivíduo. A tendência vai do sujeito para o objecto. Ela responde a uma necessidade interna (pulsões sexuais, afectivas, intelectuais, etc.). Somos levados a realizar os nossos próprios fins com que o mundo nos oferece; a tendência está sempre presente, persistente, inacabada. Pode ele ser mais ou menos complexa, articular-se com os dados da experiência, elevar-se por uma síntese cada vez mais completa das impulsões elementares que correspondam às necessidades orgânicas; segundo Janet, as tendência mais complexas subordinam-se às tendências simples e utilizam-nas em seu proveito, impondo ao sujeito uma “tensão psicológica” cada vez mais elaborada. Assim, as tendências morais são mais elaboradas que as tendências para a afirmação de si. Têm necessidade de uma aprendizagem mais longa e mais complexa.

Vontade – esforço mental que incita à acção. Poder que o homem tem de representar a si mesmo uma tarefa e de a realizar ou não. Há quatro momentos no acto voluntário: concepção, a deliberação, a decisão e a execução. Mas a natureza da vontade escapa à análise. Alguns subordinam-na à conduta racional; mas quando há uma escolha a fazer entre duas eventualidades igualmente tentadoras, pode-se perguntar porque acaso um sujeito se inclina bruscamente para um lado. Determina-se, sem dúvida, segundo móbiles inconscientes, portanto irracionais.
Admite-se geralmente que a vontade traduz o equilíbrio entre os impulsos do dinamismo instintivo e os motivos ditados pela razão. A vontade não é uma força, mas o ajustamento correcto de forças. O homem de vontade torna-se, ao mesmo tempo, o sujeito e o responsável da sua conduta. O acto voluntário reside no controle de si. Exige grande dispêndio de energia e uma elevada tensão psicológica, porque necessita de inibição, de resistência, por exemplo às pulsões ou aos hábitos. Por isso, ele é frágil e será facilmente perturbado por uma lesão do sistema nervoso, assim como a atenção à qual ele está ligado. Esta lesão do sistema nervoso provoca uma diminuição ou uma perturbação da actividade voluntária, enquanto a actividade automática permanece intacta. São os actos elaborados os primeiros e os mais facilmente atingidos.
As doenças da vontade são as doenças do esforço: a abulia manifesta-se pela impossibilidade de tomar uma decisão, traço marcante da psicastenia. O abúlico é um ser assediado por tendências contraditórias. A sua personalidade, incompletamente formada, não sabe realizar a escolha que se impõe.


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  1. Anonymous 20.11.09

    ler todo o blog, muito bom