expressões do lugar

Toda a arquitectura constitui uma forma existencial tanto quanto uma relação vital com a natureza. Physis, vida, fauna, flora, topografia, clima, paisagem ou jardim..., a natureza é sempre o que “existe” que o arquitecto não poderá ignorar mesmo se é dela que o homem se separa e é sobre ela que age.* A arquitectura caracteriza-se por ser uma mediação estável entre homem e natureza, gera um mundo habitável pelo entrecruzamento com o que existe, das situações com que se depara e de uma poética. Partindo das categorias nietzscheanas poderemos qualificar duas situações, respectivamente apolínea e dionisíaca: distância ou ligação.
Nietzsche em a Origem da tragédia, descreve estas tendências contraditórias que observa na Grécia antiga – que atravessa o homem e se experimenta na arte: a dimensão apolínea, caracterizada pela ordem, medida, serenidade, beleza formal, que se manifesta depois de Sócrates numa cultura idealista de distanciamento da natureza, que se impõe progressivamente e se opõe ao dionisíaco, instinto estético que se resguarda na natureza, hino à mesma natureza e à vida indestrutível, à natureza no homem e à embriaguez dos sentidos. O domínio dionisíaco é o espaço selvagem da physis, Dioniso, o deus ambivalente destrutor ou benfeitor, selvagem ou salvador.
A modernidade que se manifesta no séc. XIX é um modo de vida, uma visão do mundo e uma relação com a terra. O que chamamos de modernidade está associado à visão da natureza que devém paisagem. Os arquitectos modernos do movimento moderno privilegiaram a perda do contacto com o solo sobre diferentes modos. Mies van der Rohe e o primeiro Le Corbusier são as suas figuras emblemáticas. Mas há uma outra via diferente desta correntemente entendida como modernidade: arquitectos contemporâneos tais como Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto, ou Siza, cruzam-se num caminho do lugar reencontrado com o meio.

* Michel Mangematin, Méditation architecturale entre l’homme et la nature, Ville contre-nature, Philosophie et architecture, Éditions la Découvert, Paris, 1999


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