ladies & gentlemen, Humpty Dumpty has just left the building


[Museu Fundação Oriente, Carrilho da Graça, 2008]


A distância entre a Ideia e a nossa percepção do mundo real é imensa. A essa diferença era em Platão o espaço. E o limite é espaço - espaço intersticial. O espaço do limite, ainda que sem extensão, é espaço: o espaço da geometria. E a geometria medeia a inacessível instância de Ideia e a realidade do mundo. O espaço, que não existe, torna-se. Devém pela desocultação. Pelo labor do geómetra que percorre o espaço entre as coisas, as descobre e lhes atribui o nome. É este o momento, este entre-dois, que se reconhece a realidade. A evidência que se revela.
A percepção do espaço implicará a criação contínua de espaço, um outro. Espaços múltiplos, contínuos, contíguos, separados, diferenciados, arrastados, nunca concluídos, na luz e na sombra. E inventamo-los pela luz e pela sombra. E esse é o ritmo da transformação da matéria.

Humpty Dumpty, sentado no alto fino muro, proclama o enclausuramento das palavras. Das coisas. Paradoxal com a sua precária situação no mundo, o seu corpo, sem juntas, sem dobras, com um limite unívoco, induz-nos ao erro das coisas fechadas.
O desejo do Museu da Fundação Oriente é esse. Fechar-se, ocultar-se, fixar-nos num mundo sem juntas e sem dobras, um mundo onde tudo é ‘complanar’. E, em rigor, o rigor autoritário do projecto de execução, eleva ao paroxismo a proposta do corpo do Humpty Dumpty. Precária situação no mundo.


Que lugar estranho para os The Bad Plus ultrapassarem os limites da convenção e demolirem o que faz diferir Stravinsky de Thelonious Monk de Aphex Twin de Kurt Cobain.


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