um homem propõe-se a tarefa de desenhar o mundo. [...] *


O mistério em Borges é tudo relacionar-se com tudo, mesmo além da roda dos astros, mesmo aquém do nosso entendimento. Em O Fazedor cita Suaréz Miranda, Viajes de varones prudentes e um antigo e vasto Império que desenvolveu a técnica da representação do território que lhe pertenceria. “... Naquele Império, a Arte da Cartografia conseguiu tal perfeição que o mapa de uma só Província ocupava toda uma Cidade e o mapa do Império toda uma Província.” A representação mensurável. Somos a medida do nosso mapa e o mapa a nossa medida. Os Mapas Desmesurados deslumbram. Não pelo rigor ou pelo realismo - essa paixão fútil pela aparência das formas – antes pela justa medida do que representam. Um Império do tamanho de uma Cidade, ou uma Cidade que coincide com a medida da Província que rege.
Mas os Mapas Desmesurados insatisfazem o espírito minucioso dos agrimensores e dos velozes geómetras. Estes anseiam o rigor da aparência. Mesmo que a custo da relação da coisa, da experiência da coisa, do seu significado. Como laboram no erro estes cientistas ansiosos. Nem sempre a razão está com Galileu.

[...] Pouco antes de morrer descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem do seu rosto.*


* O Fazedor, Jorge Luís Borges

adenda: E HOU SE OF_C ARDS, dos Radiohead. Sem uso de câmara ou de luz. Apenas informação, dados captados por scanners laser, transformados em imagens. Nem a luz permite responder à inquieta necessidade de uma representação mimética do real. Ferramenta desolada.


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