lebenswelt

Eu assumo o desafio de descobrir o escondido, o não revelado, o não percebido nos objectos aparentemente unidimensionais ou com uma única valência.

Esse é todo o projecto da humanidade. Significar não só o insignificado como o insignificável, especialmente o discurso artístico, o discurso poético. A arquitectura carrega muito a memória daquilo que nunca vimos. Pressupõe, portanto, um modo de olhar que, embora adquirido, nos acaba por ser-tão próprio como o faro é para os cães.


Manuel Vicente


Importa para Manuel Vicente a abertura ao mundo. Essa abertura radical além de método é ela própria o resultado desse percurso inclusivo: a partir do real – domínio do intencional – a desocultação do mundo é o espanto com as descobertas que ocorrem ao longo deste processo em projecto.
Desde logo o lugar é o ethos. A transformação do real pela acção humana sob a forma de cultura. Daí a abertura ser uma exigência ética: compromete-se com o lugar [cultura e topos], com os constrangimentos de cada obra. Resulta daqui a transformação do mundo pela invenção arquitectónica.
À investigação, à procura da verdade, é, a partir daqui, imposta a geometria como princípio condutor ao rigor – milimétrico – da produção arquitectónica. São as opções concisas que determinam depois o valor e o significado das coisas através de uma hierarquia que se exprime pelo desenho.
A criação da ordem, num mundo finito e mutável, é o propósito último das acções humanas - o real e o ideal, o geral e o específico, são “dados” da percepção e constituem o campo da intencionalidade – da existência. É este o labor do arquitecto.


[Manuel Vicente, Piscinas Outurela, Carnaxide, 1999.2003]


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