estrada nacional


No Cartaxo, à beira de uma pequena e simpática livraria de província, no acompanhamento de uma rua qualquer de uma qualquer cidade pequena – pequena, desorganizada, feia naquilo que as décadas recentes construíram; igual a tantas outras nos milhões que agora são gastos em Polis e recuperações daquilo que o regime democrático tão bem soube desprezar e da paisagem que as autarquias acharam por bem obnubilar e traficar para fins pouco menos que mesquinhos - surge a presença de um objecto singelo, singular no carácter, íntimo no convívio com as construções contíguas.
Sem reparos à “monumentalidade” das construções oficiais que marcam o largo adjacente, mas com o decoro e ao mesmo tempo a eficácia que a arquitectura de preenchimento exige.
Tão eficaz como a acção do arquitecto é o desempenho do promotor, que procurou soluções de mercado que passassem pela diferença no produto a oferecer. É esta vivacidade que faz – deve fazer - sobreviver a arquitectura numa época de erosão rápida da memória do habitar ou da confusão a que as orientações urbanísticas vigentes conduzem a experiência do habitar do território e das casas, (loteamentos massivos em paisagens rurais, edifícios de apartamentos desgarrados dos tecidos urbanos, sprawl inqualificado e inqualificável em qualquer povoação com pretensões a urbanidade cosmopolita, o progresso de timbre português).
Desta conflitualidade entre arcaísmos da nossa experiência do território e do mercado da construção civil, e da(s) tentativa(s) disciplinares de acrescentar ao habitar alguma coisa do nosso tempo, surgem-nos situações de paródia involuntária e kitsch, decerto resultado de confrontações entre projectistas e promotores. Tal como é o confronto entre o arcaico e o contemporâneo, a memória rural do espaço e a urbanização dos costumes. [cf. o barbecue nas varandas]
É kitsh lusitano, mas é pleno de energia vital. A sina do Galo de Barcelos.

[Habitação Multifamiliar, Cartaxo]

p.s. Pede-se, a quem conheça, que revele o nome do autor.


about this entry


  1. irumi-coa 18.3.08

    Diogo Burnay. Esse projecto é assim como o Centro Cultural da autoria do Arq. Diogo Burnay.