o labirinto natural

Como forma de organização labiríntica do espaço poderemos dar exemplo do jardim, pois ao mesmo tempo que concretiza uma ocupação mais ou menos elaborada do espaço é também arquétipo da natureza. O jardim como espaço, apropriado ou colectivo, possui uma intenção estética essencial, uma intenção de prazer, de sensações, apesar de todo o utilitarismo que lhe possa estar subjacente. Projecta-se sobre a natureza e domina a paisagem. O jardim clássico francês que procura a ordem clara ou o jardim inglês, o labirinto, são produtos de um talento de manipular o imprevisível e medimos o seu valor pela imprevisibilidade que provocam na consciência estética do caminhante. A dimensão ordem e desordem é ainda uma dimensão subjectiva do ser com o jardim, que é a expressão de uma ordem que foi ocultada. A matemática diz-nos que ordem e desordem não são uma dicotomia mas pólos de uma escala contínua, escala essa que nos dá os graus de desordem do espaço ou da sequência de um percurso, relacionando esse percurso com os elementos de conhecimento de cada indivíduo. O segundo carácter essencial da tipologia dos jardins e que importa para análise deste como espaço labiríntico é o papel dado à natureza como determinante do espaço que o homem percorre ou à artificialidade humana expondo os elementos naturais a partir de um plano concebido. O universo labiríntico do jardim apresenta-no-lo como um jogo proposto deliberadamente ao ser como enigma espacial a resolver, pretexto que explore a natureza.
Todo o labirinto é um conjunto de corredores e cruzamentos ligados de modo complexo que contraria a mobilidade do indivíduo. O conceito de corredor, rua, exprime na sua essência a contrariedade na mobilidade do ponto móvel que o percorre em todas as direcções do espaço. Por exemplo, numa rua, a mobilidade longitudinal é maior que a mobilidade lateral. Uma direcção é a cada instante favorecida e considerada como livre enquanto as outras são reduzidas ou anuladas. É esta a essência do labirinto. É esta complexidade que é a situação do ser em errância: com um conhecimento limitado de uma envolvente visual limitada, que é conduzido a repousar sobre a memória para encontrar o lugar onde se encontra e de cognitivamente o organizar, guardar no seu espírito os seus esforços anteriores até ao momento em que decide o próximo passo, estabelecer uma correlação entre o seu passado e o seu devir, entender espacilamente.
Os labirintos poderão ser categorizados pela sua qualidade estética: labirintos intrínsecos, estruturas topológicas que não têm nenhuma qualidade perceptiva a não ser a função de obstáculo (a parede uniforme desprovida de sensações e tudo o que pode fazer é prolongar-se até ao próximo nó da estrutura); labirintos extrínsecos ou estéticos, nos quais os muros e as paredes apesar de possuírem as qualidade que lhes são intrínsecas são ao mesmo tempo fontes de riqueza sensorial, de prazer ou “desprazer” que nada têm que ver com a motivação cinética da estrutura labiríntica: ir mais longe para poder alcançar qualquer lado.
O conceito de labirinto é uma espécie de arquétipo do espaço, modelo recorrente que se aplica todas as vezes que a mobilidade é contrariada de um modo suficientemente complexo que escapa ao entendimento imediato do sujeito da mobilidade. Há desde logo um domínio cognitivo que o indivíduo exerce sobre o seu ambiente imediato. Em que medida ele o domina pelo campo de visão ou, ao contrário, é o indivíduo submetido e dominado?


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