estética do adormecimento

O princípio da fantasmagoria, o bombardeamento sensitivo da tecno-estética, demonstra o potencial da estética para induzir a uma forma de anestesia. A ênfase e saturação visual embriaga o observador, de tal modo que a experiência estética funciona como narcótico. As sensações estimuladas alteram a consciência e esta embriaguez estética podem adormecer o sujeito. Este fenómeno paradoxal pode-se exprimir pela oposição que o termo “estético” nos aparece associado ao seu oposto “an-estético” (anestesia). O antigo termo grego aesthesis faz referência não a teorias abstractas do belo mas a percepções sensoriais, implica uma elevação dos sentimentos e das emoções, uma consciencialização dos sentidos, o oposto, portanto, à anestesia!
O processo de estetização eleva a consciência a uma estimulação sensorial com que desencadeia uma anestesia compensatória como compensação contra a sobre-estimulação. A anestesia trabalha paralelamente à estética: uma alimenta a outra. Neste sentido o constante estímulo visual a que nos encontramos sujeitos pode ter um efeito narcótico. Assim um bom desenho depende obviamente de um alto sentido visual, mas esta ênfase na imagem acaba por ter consequências nefastas numa disciplina que, como a arquitectura, deverá estar envolvida em preocupações de carácter social – onde é mais provável que esta questões se reflictam mais acentuadamente. A sedução da imagem trabalha contra qualquer sentido subjacente de compromisso social. Como prática, a arquitectura encontra-se potencialmente sujeita a este âmbito estético, e os arquitectos particularmente susceptíveis a uma estética que fetichiza a imagem efémera, a membrana superficial. O mundo esteticiza-se e anestesia-se: a estética da arquitectura ameaça converter-se na anestesia da arquitectura, no seu adormecimento.


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